domingo, 23 de agosto de 2020

"SUAVE MILAGRE"

Com o máximo respeito pela obra

de Eça de Queirós,  a minha versão


Num casebre desgarrado

nas cercanias de Galileia,

quadro tão desgraçado,

outro igual, nem na ideia ...

Uma desventurada mulher,

viúva de largos tempos,

imagine ... quem quiser,

este quadro, de lamentos:

Filho único, a criança,

entrevado numa enxerga,

tísico, sem esperança,

viver triste, cena negra! ...

Do todo e de tudo distantes,

sem meios, só carências,

os gemidos são as constantes

de trágicas referências.

Sem azeite a alimentar

a lamparina de barro,

nem luz, para ali brilhar,

mostrando o sujo e o sarro ...

Secara até a figueira,

morreu-lhes a cabra, com fome.

Por mais que o desejo queira,

ali, só a erva se come ...

Certo dia, pobre mendigo

que por ali perto ia passando,

espreitou pelo postigo

e, mansamente, foi entrando.

Repartiu pão duro que trazia,

o escasso alimento,,

em tão magra fatia

e falou, do caso de momento:

Que havia, um tal Rabi,

nas vastidões da Judeia,

a fazer, aqui e ali,

milagres d'espantar ideia.

Multiplicava os pães,

animava as criancinhas,

sarava males, às mães,

sem usar quaisquer mézinhas.

Bastava passar a mão

sobre quem padecia

e logo, como um condão,

todo o mal, desaparecia!

Milagre! Todos louvavam,

seguido os seus passos.

E, tantos o procuravam,

até mesmo, os mais ricaços.

O pobre menino, tudo ouvia

e disse à mãe, num gemido:

"É esse o bom do Rabi

que devia vir ter comigo" ...

"Vai minha mãe, na procura,

pede que me venha sarar,

dando-me a graça da cura"...

Dizia, tudo isto, a chorar.

Desvairada, a pobre mulher,

apertando a cabeça,

impotente sem saber,

a que instinto obedeça,

respondia, inconsolável:

"Como meu filho, eu poderei

ver esse Rabi admirável"?

"Onde estará? Eu não sei"!

Replicava o pobre moço,

"Óh mãe! Ele ama os meninos"! ...

E, na veemência do esforço,

a tosse ditava destinos ...

Triste, a mulher soluçou:

"Mas filho, quem poderá dizer?

O céu o trouxe e o levou ...

Quem sabe, acabou por morrer"!

Erguendo as mãos magras,

d'entre aqueles negros trapos

que lhe ocultavam as chagas,

a frase surgiu, aos pedaços:

"Mãe, eu queria ver Jesus"!...

Logo, abrindo a porta, surgindo ...

envolto em Divina Luz,

Ele,  disse sorrindo:

"AQUI ESTOU"!


Chorei, ao ler este texto, quando novo.

Hoje, já velho, ainda me comovo ...

Sem comentários:

Enviar um comentário