Na "furda" alimentado,
o porquinho engordou.
Mas estava condenado
e o seu mau dia chegou!
É a altura da matança,
há quem diga, matação,
motivo de boa festança.
Na aldeia, a animação!
O ritual causa pesar,
pela má sorte ou destino.
Lá vem a faca e o alguidar
para o "martírio" do suíno.
Desnecessário, descrever
o sofrimento do animal ...
Já cadaver, há que prover
às tarefas do habitual.
Começam logo as assaduras
para compensar a canseira.
"Juntem-se ao lume criaturas,
aqui bem perto da lareira! ...
Os Maneis iam degustando,
as Marias todas numa roda,
boas febras iam migando
no alguidar, até à borda!
Ainda me lembro, era menino,
de ver os enchidos à maneira.
As tripas, por bom ensino
eram lavadas na ribeira.
Começa a festa do enchimento:
Painhos, chouriços e chouriças,
bases de futuro alimento,
sem esquecer as linguiças!
Mais preparadas as morcelas
bem assim as farinheiras.
Que especialidades tão belas
famosas nas nossas Beiras!
Irão ganhar sabor de fumeiro
que lhes dará a boa cura
e comidas no ano inteiro,
dando graças por tal fartura!
Das traseiras, os presuntos
que o sal irá conservar.
Dependurados, não muito juntos,
já com colorau a pintar.
Os toucinhos, bem salgados
na arca de velha madeira,
serão partidos aos bocados,
consumidos de qualquer maneira
Era assim à moda antiga,
como a minha memória reporta.
Mas digam que lhes diga.
ainda havia as couves da horta.
Boa sopa se fazia com elas.
O porco dava o conduto,
eram de ferro as panelas,
tão negras, "vestidas de luto"!...
Podia ser pobre uma vida,
o dinheiro mal se conhecia
mas com peso e boa medida,
a adversidade, lá se vencia!
Vila Velha de Ródão, 14 de Janeiro de 2017
III - Matança do Porco, à Moda Antiga.
Lá estive, como "Poeta de Sarnadinha"!
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