O COMBOIO DA BEIRA BAIXA
O antigo comboio, "pouca-terra"
que do Rossio partia,
tantas recordações encerra!...
Vou evocá-las, neste dia.
Partia sempre à tabela,
do chegar, ninguém sabia!
Viajar junto à janela,
Era sempre mais valia.
Três classes de viajantes:
De primeira, segunda e terceira.
Nem víamos os importantes...
nós os da classe "galinheira".
As carruagens na verdade,
causavam um certo espanto.
Hoje, em museu de raridade.
Na altura, um encanto!
Cada compartimento, uma porta,
cada porta uma janela,
era esbanjar mas que importa?
Viajar, coisa tão bela!...
A máquina "resfoleante"
soprava fumo e fuligem,
sujando a todo o instante,
a fatiota de boa origem.
Das Beiras e por Regional,
parando em todo o lugar.
quem iria levar a mal,
se era ali que se ia ficar?
Estações de aguardar passagem,
eram motivo de arrelias.
Esperar o da outra viajem,
o chamado de mercadorias.
Mal alimentada a carvão
a velha máquina infernal,
por vezes, faltando a pressão,
parava, sem dar sinal!
Ganha a força no descanso,
lá seguia no seu jeito,
passageiros em ripanço,
aconchegados, de mau efeito.
Hora de comer a merenda,
preparada para a aventura,
"vocemecê" é servido", oferenda
de educada e beirã criatura.
Cestas, malas e sacos em profusão
espalhados pelo compartimento.
Alguém sentado no chão,
sem qualquer constrangimento.
Não havia lugares marcados.
Quem chegava, se sentava.
Para os distraídos, ou atrasados...
em pé também se viajava.
Tal como coração de mulher,
"onde cabe sempre mais um",
venha lá quem vier...
era costume bem comum.
Mas ao fim de horas tantas,
após manobras e solavancos,
aquelas alminhas santas
nem se queixavam dos bancos.
Feitos de "pau de madeira"
tão incómodos e corridos,
assim eram, no comboio da Beira,
em tempos quase esquecidos.
"Acostumados" a todo o mal,
os pobres do nosso passado,
vivendo no obscuro Portugal,
souberam deixar legado.
Hoje, mais prósperos todos nós,
saibamos prestar homenagem
aos nossos esforçados avós
que nos deram melhor linhagem!
Recordar,
é voltar a viver!...
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