Um barco airoso, decerto não é,
O tão falado, de nome "Picarêto".
Fundo raso, bicudo, quadrado à ré
E vestindo de luto, todo preto.
Criado para trabalhos no rio,
Movido à força de braço
Porque, sem melhor atavio,
Provocava, um certo cansaço.
Isso, quando a forte corrente
Existente nessa altura,
Dava uma luta premente,
A qualquer pobre criatura.
Na sua faina da pesca,
Tripulação em duplicado:
Ti-Manel, tarrafa arresta,
Dona Maria, no compassado …
Docemente, sem muita pressa,
Chapinhavam os remos em ritmado.
Por vezes, com ventos de ravessa,
O Tejo teimava, não ser domado.
Colaborante no sustento
Daquelas boas alminhas,
Há hoje um certo desalento:
Abalaram os barbos e tainhas.
Outras espécies e as irós,
"Frutos" do rio, desaparecidos,
Que no tempo de nossos avós,
Eram tão bons e apetecidos! …
Já sem função apropriada,
Escasseiam por aí os "picarêtos".
Ficou triste, a Senhora d'Alagada
E só os poetas, lhes fazem sonetos!
"Poesia um Dia" - 2018
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