O tilintar dos chocalhos no rebanho,
no aproximar em sons mais fortes,
naquelas tardes cálidas de antanho,
anunciava o regresso do gado às cortes.
Findava assim o trabalho de um dia,
a que se seguia o preparo da ceia.
E toda a família, em perfeira harmonia,
trocava ditos, próprios da aldeia.
Na bacia funda de barro antigo,
o feijão misturado com almeirão,
era a fraca manja, um castigo
de quem era pobre, sem razão!
Agradecia-se a Deus, mesmo assim,
o pão de centeio que, na arca,
ficava duro, bem ruim ...
mas complemento da refeição parca.
No lume de chão, chama avivada,
uma pucarinha tisnada pelo fumo,
aquecia a água que, com a cevada,
fazia o cafezinho... em resumo.
Dadas as bençãos seguia-se a deita.
Amanhã, novos trabalhos, outro dia.
"Já tendes a caminha feita"!
"A candeia d'azeite vos alumia".
"Boa noite mulher,
até amanhã se Deus quiser"!
E Deus queria. Um viver, no outro dia!
In. "Neste Lugar Onde Nasci"
Silvério Pires Dias - Poeta de Sarnadinha
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