segunda-feira, 20 de junho de 2022

AS MINHAS MEMÓRIAS

O tilintar dos chocalhos no rebanho,

no aproximar em sons mais fortes,  

naquelas tardes cálidas de antanho,

anunciava o regresso do gado às cortes.

Findava assim o trabalho de um dia,

a que se seguia o preparo da ceia.

E toda a família, em perfeira harmonia,

trocava ditos, próprios da aldeia.

Na bacia funda de barro antigo,

o feijão misturado com almeirão,

era a fraca manja, um castigo

de quem era pobre, sem razão!

Agradecia-se a Deus, mesmo assim,

o pão de centeio que, na arca,

ficava duro, bem ruim ...

mas complemento da refeição parca.

No lume de chão, chama avivada,

uma pucarinha tisnada pelo fumo,

aquecia a água que, com a cevada,

fazia o cafezinho... em resumo.

Dadas as bençãos seguia-se a deita.

Amanhã, novos trabalhos, outro dia.

"Já tendes a caminha feita"!

"A candeia d'azeite vos alumia".

"Boa noite mulher,

até amanhã se Deus quiser"!

E Deus queria. Um viver, no outro dia!


In. "Neste Lugar Onde Nasci"

Silvério Pires Dias - Poeta de Sarnadinha


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