Neste mesmo rio me revejo,
No tempo em que o grande Tejo
Me fascinava. Era ainda menino.
Presença, além junto à ermida,
Uma azenha, então erguida,
E nela laborava o avô Firmino.
Cachopo de tenra idade,
Nunca esqueci, na verdade,
O encanto que então sentia,
Vendo o caudal de tanta água,
Sempre veloz, galgando a frágua...
Era assim que o meu rio corria.
As labutas próprias da azenha
Não cabem nesta minha resenha.
Delas tenho rimado com frequência.
Resumo apenas, odores que ficaram,
Na minha sensibilidade e nidificaram,
Fazendo parte de mim, por inerência.
Ao tempo, esta água, tanto dava!
Cheiros a poejo e hortelã brava.
Nas margens, a junça tão abundante,
Era segada a preceito no Verão quente
E colocada no chão, pacientemente,
Proporcionava, pisar suave ao visitante.
Cheiros simples, odores da Beira
Que guardei para a vida inteira.
E é já bem longa a que vivo!...
Porque o passado nunca volta,
Apesar de sentir alguma revolta,
Apenas às recordações, fico cativo.
Porque hoje, meu belo Tejo,
Assim majestoso como te vejo,
Não és o mesmo e tal lamento.
Transformado em grande lago,
Por paredes de betão, aprisionado,
És somente o que és, no momento!
E porque a maioria assim te conheceu,
Não podem lamentar-se, tal como eu!
"Poesia, um Dia" - 2018