sexta-feira, 5 de outubro de 2018

SAUDADES

DA AVÓ CONCEIÇÃO

É no crepúsculo da tarde
que recebo a visita da saudade.
Ela teima, em fazer-me companhia,
não querendo que, estando a sós,
jamais lembraria o tempo d'avós,
quando a vida era ainda, fantasia.

E ela, a saudade, não evita
que recorde a imagem, bonita
da minha velhinha, avó Conceição!...
Matriarca, à boa moda antiga,
oito filhos, de abençoada barriga!
A dar ao mundo e com pouco pão.

Sacrifícios, os imagino e tantos!
Quantas rezas e orações aos santos,
nos seus pedidos de ajuda?
Viúva bem cedo, escasso usufruto,
mulher de um só homem, em luto,
tanto terá gritado, "Deus que me acuda!

O sofrer perda de filhos amados,
sendo eles já homens criados.
Tal padeceu a minha santa avó!
Foram dois e ambos de forma violenta.
Só o sabe-lo, tanto se lamenta
Sobraram seis. Nunca esteve só.

Morreu, perto dos cem, velhinha,
como desejou, na "sua Sarnadinha",
aldeia onde nasceu, viveu e amou.
Ainda hoje, ao ver o seu antigo lar
que visito e tanto me faz pensar:
"Como, família tão vasta, aqui morou"?

"Poesia, um dia" -  2018

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