"CIDADE DO FUTURO"
Poderei dizer, sinto a saudade
E por ela, falará a minha verdade,
Ao recordar, a Cidade da Beira.
Durante três anos, seu residente
E feliz, que fique bem assente,
Vivendo a vida, à minha maneira!
Jovem, na plenitude assumida,
Carreira militar, então seguida,
Cumpri, Comissão em Matacuane.
À chegada, o contacto violento:
Clima húmido, era tormento!...
Do contrário, ninguém se engane.
Resistir, na adaptação, assim foi.
Uma dor hoje, amanhã não dói.
As benesses surgiram, de modo lento
Pois o Destino, bem me agraciou
E a minha vida, tanto mudou,
Para além da simplicidade de Sargento.
Iniciei na Rádio Pax, nova carreira,
Como locutor, naquela Beira,
Cidade que me ouviu e aceitou.
Compatível com deveres normais,
Abria a estação, a horas matinais.
"Dia Novo, Vida Nova", se criou.
Rubrica, dirigida à sociedade.
Depois, toda e qualquer novidade,
Foi "saboreada" de várias maneiras.
Graça maior, o nascimento de filha
Na maternidade de fraca partilha
Mas servida, por delicadas freiras.
SERÁ POIS, "MACHANGANE", A TATIANA,
NATURAL, DAQUELA TERRA AFRICANA.
Multirracial, a comunidade existente:
Europeus, Africanos, tanta a gente …
Indianos, chineses, muçulmanos,
Cada qual na sua natural Cultura,
Pois toda e qualquer criatura,
Deve ser considerada. Todos humanos!
A "guerra" levou-me a Mueda. Ao Norte
Lugar de "Macondes", a quem a sorte
Virou costas, provocando a revolta.
Impor a ordem, com a Artilharia,
Era o que então se previa,
No conter a rebelião. à solta.
Finda a missão, voltar ao aquartelamento.
A ausência, já pesava no pensamento.
De novo, Macúti e o farol, emblemático,
Na Ponta Gêa, Grande Hotel em decadência,
Perdida a anterior e gabada opulência,
Do que foi, tão "badalado" e carismático.
"Café Emporium", em fins de semana,
Numa coexistência que não engana,
Rodesianos, com "lei seca", imposta,
Ingerindo largas quantidades
O que, as suas exigentes autoridades,
Impediam, à tal bebida, de que se gosta
Versejando, a dar continuidade,
Levaria a uma maçadora realidade.
Assim, aligeirando em prosa, normal
Vos direi, como prova final,
Recordações, que guardei:
A Praça do Município e o Prédio Megaza,
Catedral dos Frades Franciscanos,
O fétido Rio Chiveve e a Estação Ferroviária,
Hotel Embaixador, Cinema São Jorge,
As "boîtes", Campino e Molin Rouge,
Aqueles "machibombos" de comodidade duvidosa,
As papaias que nasciam no meu jardim …
Convívio entre as gentes e aquele calor, diferente …
Para além da fronteira da cidade, as lonjuras
que se percorriam para um almoço:
3oo quilómetros de terra batida, por exemplo!
A Barragem de Chicamba Real,
Missão Franciscana de Vila Pery,
O Parque da Gorongosa, selvagem …
Tudo isso se recorda e deixou saudades.
Dizia-se, na altura, "Beira - Cidade do Futuro"
Na zona do Dondo, as estradas estavam abertas, Ao tempo.
Entretanto, a Comissão Militar, terminou.
Por outras paragens, a minha vida continuou.
………………………………………….
Naquele dia, a má notícia, teve um nome: IDAI.
Vi as imagens. De coração apertado. assisti à devastação,
perguntando a mim próprio, "Que futuro será o teu,
Cidade da Beira?
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