Um barco airoso, decerto não é,
O tão falado, de nome "picarêto".
Fundo raso, bicudo, quadrado à ré
E vestindo de luto, sempre preto!
Criado para trabalhos no rio,
Movido à força do braço.
Porque, sem melhor atavio,
Provocava, um certo cansaço.
Isso, quando a forte corrente
Existente nessa altura,
Dava uma luta premente
A qualquer pobre criatura.
Na sua faina da pesca
Com tripulação em duplicado,
Ti-Manel, a tarrafa arresta,
Remava a Dona Maria, compassado.
Docemente, sem ânsias de pressa,
Chapinhavam os remos em ritmado.
Por vezes, com ventos de ravessa,
O Tejo teimava em não ser domado.
Colaborante no sustento
Daquelas boas alminhas,
Há hoje um certo desalento:
Abalaram, os barbos e taínhas
Também as fanecas e as irós,
"Frutos" do rio desaparecidos,
Que no tempo dos nossos avós
Eram tão bons e apetecidos!...
Já sem função apropriada
Escasseiam por aí, os "picarêtos"
Ficou triste a Senhora d'Alagada
E só os poetas, lhes fazem sonetos.
Sem comentários:
Enviar um comentário