quinta-feira, 23 de agosto de 2018

PICARETO DO RIO TEJO

Um barco airoso, decerto não é,
O tão falado, de nome "picarêto".
Fundo raso, bicudo, quadrado à ré
E vestindo de luto, sempre preto!

Criado para trabalhos no rio,
Movido à força do braço.
Porque, sem melhor atavio,
Provocava, um certo cansaço.

Isso, quando a forte corrente
Existente nessa altura,
Dava uma luta premente
A qualquer pobre criatura.

Na sua faina da pesca
Com tripulação em duplicado,
Ti-Manel, a tarrafa arresta,
Remava a Dona Maria, compassado.

Docemente, sem ânsias de pressa,
Chapinhavam os remos em ritmado.
Por vezes, com ventos de ravessa,
O Tejo teimava em não ser domado.

Colaborante no sustento
Daquelas boas alminhas,
Há hoje um certo desalento:
Abalaram, os barbos e taínhas

Também as fanecas e as irós,
"Frutos" do rio desaparecidos,
Que no tempo dos nossos avós
Eram tão bons e apetecidos!...

Já sem função apropriada
Escasseiam por aí, os "picarêtos"
Ficou triste a Senhora d'Alagada
E só os poetas, lhes fazem sonetos.

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