terça-feira, 19 de novembro de 2013

OCREZA - A RIBEIRA

Nos meus idos tempos da escola.
Em livro na minha sacola,
Aprendi que Ocreza era rio.
Antes, o julgava uma ribeira,
Pois era dessa maneira
Que dele se falava, no Estio.

Ir à ribeira era uma festa!
De memória muito me resta
Para aferir da sua importância.
As grandes lavagens das mantas,
Com as mulheres - eram tantas - 
Em magotes, na circunstância.

Bem colorida e alegre, a burricada
E muita, a roupa levada
P'rás lavagens da água corrente.
Às similares de Caneças,
As de Sarnadinha, pedindo meças!...
Tão valorosa, a nossa gente!


Durante a secagem ao sol,
O pão duro - nunca o mole - 
Se preparava para o repasto.
Homens de bom pulmão,
Mergulhavam, e à mão,
Juntavam, o peixe basto.

O que se levava de casa,
Panela a jeito, feita a brasa,
Sopas de peixe, vamos a isto!
Tradição à moda da Beira,
Ideia prática, barata maneira,
De preparar, bom petisco.

Antes, não havia a ponte.
Na margem, a barca se apronte.
Família de barqueiros, a garantia.
Prestativos, a troco d'uns cobres,
Pois os fregueses, mesmo pobres
Não regateavam a travessia.

A ribeira, era a nossa "riqueza".
Tinha tesouros de pobreza,
Como a "junça" que cortada,
Refrescava a entrada da casa,
Quando o sol d'Agosto era brasa!
Pela tarde, se mantinha regada.

E os duros trabalhos do linho?
Lavar, bater, secar ao molhinho...
Era naquela água corrente
Que decorriam tantos trabalhos.
Com canseiras mas sem ralhos.
Tão próprio, da nossa gente!

Sem esquecer outras valias,
O Ocreza daqueles idos dias,
Até tinha ouro no seu leito!
Recordo, os lendários pesquisadores,
Aventureiros e sonhadores
No manejo do que era preceito.

Algum sustento nas pescarias.
Profissionais de boas valias,
Tinham os barbos ali à mão.
Se vendiam em presença anunciada,
E o cheiro da sua fritada,
Anunciava, o preparar refeição.

Em jeito de algazarras,
Nós os pequenos, nas "piçarras",
Esvaziando buracos e covas,
Apanhávamos enguias, à garfada,
Pois à mão, fugia a danada!
Me julguei, um "alho", nestas provas!

Outras, de grande temor
Para as avós do muito amor,
Eram os banhos, tidos na ideia.
Sem permissão, lá íamos todos,
Com inconsciente alegria a rodos.
Depois,... a inevitável tareia!


Devaneios, recordações de momentos
Tão intensamente vividos!
Também tiveram alguns lamentos.
Esses, convém mantê-los esquecidos!












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