domingo, 15 de janeiro de 2012

MEU IRMÃO AFRICANO

Nasceu, em bairro problemático,
De família com perfil errático.
Menino de rua; um mau fruto,
Deste Mundo em que vivemos.
Cresceu, com o ferrete de sinal menos
E, as qualidades ignoradas, em bruto.

Bola trapeira, primeiro e único brinquedo;
Sem amor à Escola; não fazia segredo.
Em esperteza natural se afirmava:
Pequenos delitos; vida vazia, preguiçosa!
No seio do clã, a vadiagem caprichosa,
Deu-lhe título: "Good boy da Pesada"!

O puxar pelo charro para se afirmar,
Valeu-lhe vómito; não podia evitar...
Estava em jogo, o seu lugar de chefia.
Encabeça a claque dum clube glorioso;
Cachecol, bandeira, gorro bem vistoso
Com as cores do seu time de fantasia.

A primeira condenação; Inevitável e prevista:
Esquema mal montado, deu na vista.
Sem recurso, a sombra escura da prisão.
Pena bem dura, proporcional ao crime.
Aí, o "meu irmão africano", foi sublime!
No seio da promíscuidade, viu a redenção.

Companheiro de cela, o "Beto Melodias",
Tocava viola, a preceito, todos os dias.
Os dois, lentamente, como que a brincar,
Foram trateleando temas conhecidos.
De tão perfeitos, começaram a ser aplaudidos,
Por toda a cadeia, após o jantar.

Em momento duma data recente,
Houve uma reportagem com a TV presente.
Aí, a dupla ultrapassou o já esperado.
Afinados; ritmo intenso; dois artistas!
Claro! Ficaram logo marcados! Deram nas vistas!
E mais! Com contrato firmado!...

Poderia prosseguir esta estória virtual;
Em verdade, tudo é possível neste Portugal.
Nem só misérias, racismos, descriminações.
Há também, os desfavorecidos mas recuperáveis.
Podem nascer vazios e crescer prestáveis!
Assim o queiramos, com as melhores intenções!

Resta esclarecer:
A dupla, cumprui a pena;
Sairam, de consciência serena.
Entraram, no mundo dos concertos.
Brilhantes! São aplaudidos por aí...
Nós, sonhámos...e, ficamos por aqui,
Pensando: - Tudo é viável...com acêrtos!

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