terça-feira, 3 de janeiro de 2012

O TEJO DA MINHA INFÂNCIA

Meu-Tejo, outrora tão nobre
Em apressada e, selvática "correnteza",
És hoje, oprimido e pobre,
Roubada te foi, a maior beleza:

Das águas límpidas em movimento,
Correndo ao encontro de final destino
E, desaguar, em ritmo mais lento,
No mar que te acolhia, como seu menino.

Conheci-te, na época da minha infância,
Ali, na curva da Alagada,
No tempo de alguma abundância,
Quando a terra era ainda trabalhada;

E, desse labor, nascia o grão;
Centeio dos pobres, trigo de abastados.
Resumindo, afinal o pão
Que a todos deixava saciados.

Algures, bem perto da Senhora,
Uma pequena azenha, laborava,
Tendo na tua corrente geradora,
A simples energia que bastava.

Dono e senhor dessa azenha,
Recordo-o, numa imagem só minha,
O avô Firmino - Deus o tenha!...
Aprumado, laborioso, envolto em farinha...

E, havia a barca de fundo chato,
Nêgra, com o pez da calafetagem,
A minha grande atração de gaiato,
Na travessia prá outra margem.

O lanço do tremalho,
Trazia barbos de sobejo;
Era esforço sempre ganho,
Nas sopas, temperadas com poejo.

E, mais recordo ainda;
Apesar dos anos já vividos,
O relembrar só nos finda,
Nos momentos mais sofridos;

Lembro, o coaxar em vários tons,
Das muitas rãs, ao desafio
E, dos insetos, com seus sons,
Todos, em sinfonia, à beira-rio.

E perfumes, espalhados pelo ar...
Do junco cortado e refrescante,
Como um tapete que ao pisar,
Dava boas-vindas, ao visitante.

Este Meu-Tejo, pertence ao Passado;
Distante mas não esquecido.
Hoje, entre barragens, emparedado,
Tem o seu ímpeto, contido.

Essa água da grande levada
Que no velho leito se acolhia,
É agora, tristemente, "perfumada",
Por ausência de vital tecnologia.


"Meu-Tejo"...
Ao que foste, já não tens regresso!
É assim que te vejo:
Sacrificado, em nome do Progresso!

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